quinta-feira, 19 de junho de 2008

O concerto de uma vida?














Em 07 de Junho de 1988 eu tinha dezassete anos apenas, era um puto. Nesse final de tarde de fim de Primavera dirigi-me para o Coliseu de Lisboa na baixa lisboeta, para assistir ao concerto de um cantor canadiano que tinha conhecido há pouco tempo, o seu nome era Leonard Cohen e vinha a Lisboa promover um disco chamado "I'm Your Man", esse cantor apresentava-se nos telediscos normalmente com um semblante soturno e cantava umas canções malancólicas que me seduziam sem eu saber bem porquê, o meu pai que já cá não está foi o grande culpado, tinha-me oferecido meses antes o "Various Positions" em vinil (pois ainda não se sabia o que era o formato CD na altura) tendo esse disco vindo a servir como motor de arranque para me atirar aos poucos e poucos ao "cancioneiro" do homem. As vezes anteriores que tinha estado no Coliseu tinham sido apenas para ir ao circo no natal quando era ainda mais puto, esta seria pois a primeira vez que ia a um concerto, poderia então ser melhor a estreia? Recordo-me de estar na rampa que dava acesso à entrada na altura para a bancada geral (entre a pastelaria "Solmar" e o próprio Coliseu) quando passado não muito tempo chegou o Cohen "himself" para fazer o "soundcheck" umas duas horas antes, vinha sozinho, vestido de negro como aparecia sempre nos telediscos e subiu essa mesma rampa pelos seus próprios pés, parando para espanto do meu espanto junto das dez ou quinze pessoas que já ali se iam juntando, soltou então um amistoso "Good evening friends" naquela voz de torvão para toda a gente e abeirou-se junto de cada um de nós cumprimentando-nos com um aperto de mão. O Leonard Cohen tinha acabado de me cumprimentar, a mim um puto de dezassete anos, fiquei claro com um enorme sorriso na cara de ponta a ponta, uma vez que, nessa altura o homem já era uma autêntica lenda viva, um daqueles cantores míticos com uma aura comparada a um Leo Férre ou a um Bob Dylan, recordo-me também de uma rapariga que estava na rampa , nos seus vinte e poucos anos, muito bonita, magra e com uns longos cabelos, ter sacado logo de uma "Kodak" e de não perder tempo nenhum em imortalizar aquele especial momento com a mesma. Depois quando as portas foram abertas, entramos ordeiramente e foi só esperar impacientemente que começasse aquele que foi para mim o melhor concerto a que assisti até hoje, escutar silenciosamente Dance Me To The End Of Love, Bird On A Wire, Suzanne, Chelsea Hotel, Take This Waltz, Hallelujah, The Partisan, Famous Blue Raincoat...sim Famous Blue Raincoat foi tocada no Coliseu (esta talvez a minha canção preferida de todas, ou a que fica talvez uns ligeiros milímetros acima de todas as outras) foi algo indiscrítivel e que guardei na minha memória até hoje...
Passados vinte anos dessa data longínqua, o "canadiano errante" vai voltar a Lisboa, dia 19 de Julho o Passeio Marítimo de Algês vai engalanar-se e recebe-lo, claro que para mim vai tornar-se "solo sagrado" e todas aquelas canções que escutei naquela noite de final de Primavera, bem como outras mais recentes mas não menos importantes vão voltar a ser escutadas por todos os que quiserem e estiverem preparados para tal, eu e outros "amigos", alguns vindos de paragens muito, mas muito longínquas fora da velha Europa, vamos lá estar unidos em devoção para as receber...


Its four in the morning, the end of december
Im writing you now just to see if youre better
New york is cold, but I like where Im living
Theres music on clinton street all through the evening.

I hear that youre building your little house deep in the desert
Youre living for nothing now, I hope youre keeping some kind of record.

Yes, and jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?

Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
Youd been to the station to meet every train
And you came home without lili marlene

And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobodys wife.

Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see janes awake --

She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
Im glad you stood in my way.

If you ever come by here, for jane or for me
Your enemy is sleeping, and his woman is free.

Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.

And jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear

-- sincerely, l. cohen

2 comentários:

Tindergirl disse...

Parabéns :)
Adorei ler o teu primeiro post. Uma história real escrita com emoção que também me conseguiste transmitir.
E sim, Famous blue raincoat é linda...

Gisela FFale disse...

Antes demais, obrigada pela visita ao meu blog, pelo comentário e pelo link...

Gostei muito deste post e vou continuar a ler...Leonard Cohen é aquele "Tio que vive longe"...em 1985, estive em Cascais, sitio aliás onde íamos todos os anos, mas nesse ano fomos especialmente para os meus pais assistirem ao concerto...tinha 12 anos, tocou-me ficar em casa com os primos e as avós :( ... mas ficou sempre o sonho, o desejo...no ano passado realizei esse sonho, numa noite "quase" perfeita e dia 30 não poderia faltar, ainda que o nível do concerto do ano passado foi tão ELEVADO, que este ano a expectativa é ainda maior...mas com todas as implicações e riscos jamais faltaria!!!
No casamento dos meus Pais tocou L.C....e desconfio que fui concebida ao som da Golden Voice ;)

Desejo-lhe uma excelente noite!

Até dia 30!;)