segunda-feira, 23 de junho de 2008

Albert Cosseri RIP














O escritor egípcio Albert Cosseri autor de "Mendigos e Altivos" ou "Mandriões no Vale Fértil" morreu aos 94 anos no passado dia 22 em Paris. Cosseri vivia num modesto hotel de Saint-Germain-de-Prés e levou uma vida totalmente despojada, nada possuía, nada tinha. Cosseri dedicou os últimos sessenta anos ao ócio e à preguiça, sentado em esplanadas contemplava os traseuntes nas boulevards de Paris, e escrevia um livro por década. Foi amigo de Albert Camus, Julliete Greco, Serge Gainsbourg e outros nomes da cultura francesa, umas das caractrísticas dos seus textos era a forma sarcástica como retratava o "seu Cairo". O velho vagabundo morreu.

domingo, 22 de junho de 2008

Brian Eno - By This River

Sigur Ros no Campo Pequeno em Novembro

















Em Novembro de 2005 estava a trabalhar por terras bárbaras do norte, como a cidadezinha onde estava era pacata de mais para o meu gosto e não se passava literalmente nada, resolvi na manhã de um sábado invernoso e de muita chuva ir passar o fim de semana ao Porto e ver estes islandeses ao vivo no Coliseu, achava-os um pouco entediantes em disco, mas aquilo que vi naquela noite foi um belissímo concerto que ainda hoje não me sai da memória, no final as pessoas estavam em transe e maravilhadas com todo aquele som glacial que tinham acabado de escutar. Como às vezes ainda tenho a mania de ficar lá para a frente nos concertos, recordo-me que durante a actuação sempre que fechava os olhos ficava com a sensação de que pequenos flocos de neve me batiam na cara...
Ahhh!! Pois! Isto para dizer que os Sigur Ros voltam a Portugal em Novembro (sim outra vez Novembro) e para já têm data marcada no Campo Pequeno dia 11...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

João Bénard da Costa e a resposta a Isabel Pires de Lima

Para quem não sabe ou simplesmente não se apercebeu, surgiu recentemente uma petição on line a pedir para que fosse aberta na cidade do Porto uma extensão ou um pólo da Cinemateca Portuguesa, esta devidamente fundamentada e apoiada por estudantes universitários, intelectuais bem como pelo comum cidadão da Invicta, entretanto o jornal "O Público" publicou na semana passada um artigo da antiga Ministra da Cultura Isabel Pires de Lima referente ao assunto em que em traços muito gerais esta acusava a instituição da Barata Salgueiro de ter estagnado e que o seu director João Benard da Costa era o principal culpado da não descentralização da mesma fazendo com que obras relevantes da história do cinema não pudessem assim chegar a outras pessoas que vivam fora do centro urbano da grande Lisboa, referindo-se ainda à Cinemateca como a "Cinemateca de João Bérnard da Costa" ou "a sua Cinemateca", fica aqui a curiosa posição de JBC publicada esta semana no mesmo jornal.

As premências de uma antigamente ministra
18.06.2008, João Bénard da Costa

Em artigo neste mesmo jornal (PÚBLICO, 6 de Junho de 2008) a ex-ministra da Cultura, Dra. Isabel Pires de Lima, juntou a sua voz a uma petição do Circuito Universitário de Cineclubismo do Porto, afirmando ser premente (sublinhado meu) a criação de um pólo de programação da Cinemateca no Porto.

Fosse ela apenas deputada, nada de estranho. Afinal de contas, é deputada pelo círculo eleitoral do Porto e fica sempre bem a quem o é parecer que defende os interesses da cidade que a elegeu. Acontece que, se, hoje, ela é deputada não o foi durante quase três anos, ou seja entre Maio de 2005 e Janeiro de 2008. Durante esse período, foi ministra da Cultura. Se achava "premente" a criação de tal "pólo", teve tempo e mais do que tempo para o criar, no uso estrito das suas competências enquanto titular da pasta da Cultura. Vir agora juntar o nome ao dos peticionários, reclamando ao seu sucessor o que ela própria não fez, é, no mínimo, posição deveras singular e pouco abonatória da sua capacidade executiva. Quem não foi capaz de fazer o que achava "premente" dever ser feito não tem qualquer autoridade para abrir a boca que ficou calada enquanto devia e podia falar. Diz ela que, como ministra da Cultura, defendeu publicamente o pólo a norte. Mesmo que tenha sido verdade, a um ministro cabe mais do que defender ideias. Cabe executá-las ou mandar executá-las. Não fez nem uma coisa nem outra e agora queixa-se. Mal dela.
Muito pior, contudo, é vir desculpar-se comigo que, director da Cinemateca Portuguesa, dependia dela e estava lá ou para lhe cumprir as determinações ou, quando com elas não concordasse, para lhe pedir a demissão. Um general a desculpar-se com oficial sob seu comando é sempre general que não merece o posto que tem.
Recordando a minha "reconhecida dimensão intelectual", cumprimento que não lhe posso devolver, a antiga ministra da Cultura acusa-me de muitos males, entre eles o de ter contribuído para a "estagnação da Cinemateca", "sem que haja coragem para dizer com todas as letras que 'o rei vai nu'".
Parece-me que ela é a última pessoa a ter autoridade para comentar cobardias alheias. Ministra durante dois anos e oito meses, teve dois anos e oito meses não só para se escandalizar com a nudez do rei, como para lhe pôr cobro, em nome de elementar decência. Não o fez. Ou porque não teve coragem para o fazer, ou porque não teve coragem para se opor a quem lhe impediu a baixa inclinação do gesto. Assim, das duas uma: ou o texto da deputada é uma autocrítica, à boa maneira da escola que a formou e informou, ou é dentada na mão do dono. Nem uma nem outra são práticas que se recomendem.

Recorda ela que eu fui nomeado director da Cinemateca em 1991. Essas nomeações revestem-se da forma de comissões de serviço e duram três anos, renováveis. Nomeado pelo Dr. Pedro Santana Lopes, fui por ele reconduzido em 1994, ao tempo em que ele era secretário de estado da Cultura do governo Cavaco. Em 1997, o Dr. Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura do governo Guterres, reconduziu-me mais uma vez, o que voltou a acontecer em 2000 (José Sasportes, ministro de Guterres) e em 2003 (o Dr. Pedro Roseta, como ministro de Durão Barroso). Três nomeações de governos PSD e outras tantas de governos PS. Para um "autista", como ela me chama, e sendo sabido "que a Cinemateca é de há muito propriedade de JBC", tanta distracção ou tanta persistência dificilmente se entendem, face ao diagnóstico da Dra. Isabel Pires de Lima. Menos se entende que, em 2006, tenha sido ela a manter-me em funções, com declarações públicas de confiança e que, a 29 de Janeiro de 2008, o seu último acto oficial (ironia do destino) tenha sido renovar-me a comissão de serviço por mais três anos. Menos de cinco meses antes do artigo em que me acusa de secar "todos os recursos humanos competentes que porventura teve ou tem", numa frase a que o advérbio "porventura" retira qualquer sentido. Ou seja, se eu hoje estou no cargo que ocupo, foi porque a Dr.ª Isabel Pires de Lima nele me reconduziu. Arrepende-se agora? É tarde, é muito tarde. Porque eu sou e ela foi. Com quase nula probabilidade de o voltar a ser. O "cavalo do poder" já não pára à porta dela.
Sobre a minha posição relativamente à petição do Porto, - "causa ocasional" do verrinoso artigo - já neste mesmo jornal disse o que tinha a dizer. Nunca disse - ao contrário do que, mentindo, a ex-ministra me acusa - que a Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema não tem "nada, mas mesmo nada a ver com isso". Nunca disse - ao contrário do que, mentindo, a ex-ministra me acusa - que a Cinemateca não deve ter qualquer intervenção no assunto. Disse e volto a dizer que não se justifica a criação de uma segunda cinemateca, como a Dra. Isabel Pires de Lima, em contradição pegada, no final do seu artigo parece concordar, ao reconhecer - cito-a - "que o país não tem dimensão nem geográfica, nem por certo patrimonial para criar uma segunda cinemateca". Disse e volto a dizer que a abertura de um espaço expositivo no Porto, em que se exponham filmes com critérios museográficos próprios de uma Cinemateca é algo de radicalmente diferente da criação de um "pólo de programação" que mostrasse em reprise os filmes já exibidos em Lisboa.

Apoio inteiramente, como já disse e repito, a constituição de um núcleo de exposição permanente (exposição permanente de filmes, entenda-se) no Porto, devidamente formalizado e dotado de todas as infra-estruturas necessárias para o efeito, dirigido e coordenado por pessoas competentes, que, no Porto, não faltam, com programação completamente autónoma da de Lisboa, mas contando sempre com a colaboração activa da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, quer para a cedência de cópias, quer para abonar contactos necessários com cinematecas estrangeiras, nossas colegas na FIAF, quer para apoio documental e informativo. Limites: apenas os que decorrem da defesa do património cinematográfico que à Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema cabe salvaguardar, quer os que decorrem de condicionalismos legais e do respeito pelos legítimos direitos dos autores ou detentores das cópias depositadas no nosso departamento de Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM).
É em base semelhante que a Filmoteca Española - sediada em Madrid - colabora com as cinematecas de Barcelona, Valência, etc, que a Cinémathèque Française - sediada em Paris - colabora com as cinematecas de Toulouse, Lyon, etc. ou que a Cineteca Nazionale - sediada em Roma - colabora com as de Bolonha, Turim, Milão, etc., para me limitar aos países latinos.
Entre a posição que voltei a sumariar - e me parece excelente base para negociações futuras - e as posições que a Dra. Isabel Pires de Lima me atribui, há uma enorme diferença. A diferença entre uma posição demagógica e irresponsável, para recuperar como deputada a péssima imagem com que ficou a ministra, e uma posição reflectida ao longo de vários anos e de muitas parcerias com instituições do Porto, algumas bem-sucedidas - como as que seguiram basicamente a orientação que preconizo - outras menos bem-sucedidas, quando a Cinemateca programou de Lisboa para o Porto.
Não posso terminar sem responder à grave acusação de "autismo", que me dirige a pretérita ministra da Cultura. Será autismo programar cinco sessões diárias (seis aos sábados) com uma média de 60.000 espectadores por ano? Será autismo gerir uma colecção de mais de 20.000 títulos diferentes (em 1980, quando entrei para a Cinemateca, eram cerca de 1400) arquivada num dos melhores centros de conservação do mundo, que a Dra. Isabel Pires de Lima, enquanto ministra, nunca se dignou visitar? Será autismo facultar a investigadores e a universitários o acesso a cerca de 500 filmes diferentes por ano, para fins de estudo e conhecimento da colecção? Será autismo a abertura, em 2007, de uma nova frente na Cinemateca, especificamente destinada a espectadores infantis ou jovens, em iniciativa apoiada pelo Ministério da Educação, e que a Dra. Isabel Pires de Lima paulatinamente ignorou, enviando à inauguração o seu chefe de gabinete e jamais se interessando por ela?
Quanto ao "armazém" (como ela lhe chama) para depósito do arquivo fílmico da RTP, que me acusa de não ter mandado executar, recordo que o processo de edificação do novo módulo dos cofres para esse arquivo esteve a jazer nas gavetas dela durante quase três anos. Três meses bastaram ao actual titular da pasta para encerrar o processo e permitir, ainda este mês, a abertura do concurso de adjudicação da obra, que a Dra. Isabel Pires de Lima, em insólita aplicação do "simplex", protelou, por razões burocráticas, durante todo o tempo em que foi ministra.
É um facto que a acção da Cinemateca foi extraordinariamente dificultada ao tempo em que a Dr.ª Isabel Pires de Lima foi ministra. É um facto que a escassez da oferta de cinema é enorme no Porto e é ainda maior em quase todo o País. Mas, a menos que se desista da "película antiga" (deliciosa expressão) e se passe a projectar em digital (a ex-ministra nunca daria pela diferença) nenhuma culpa cabe à Cinemateca, que terá muitos pontos fracos, mas não esses para que a ex-ministra, tão tarde e a tão más horas, pareceu acordar, a fim de sacudir a água do capote e arranjar, no "vitalício" director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, o "bode expiatório" com que ajustar contas que não são deste rosário. Meta-se com gente do seu tamanho e haja respeitinho por quem não tem nem idade, nem percurso profissional, nem posição social para gastar mais cera com tão ruim defunta. Director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema

in Jornal "O Público" de 18.06.2008

Weronika conhece Véronique

Uma surpresa nas Festas de Torres Novas...

















Suzanne Vega

Jardim das Rosas
Torres Novas


8 de Julho

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um inglês em Lisboa...

Cowboy Junkies "Misguided Angel"

Para quem acredita em anjos...

" "É inútil tocar canções de embalar para quem não consegue dormir"

John Cage (1912-1992)

O concerto de uma vida?














Em 07 de Junho de 1988 eu tinha dezassete anos apenas, era um puto. Nesse final de tarde de fim de Primavera dirigi-me para o Coliseu de Lisboa na baixa lisboeta, para assistir ao concerto de um cantor canadiano que tinha conhecido há pouco tempo, o seu nome era Leonard Cohen e vinha a Lisboa promover um disco chamado "I'm Your Man", esse cantor apresentava-se nos telediscos normalmente com um semblante soturno e cantava umas canções malancólicas que me seduziam sem eu saber bem porquê, o meu pai que já cá não está foi o grande culpado, tinha-me oferecido meses antes o "Various Positions" em vinil (pois ainda não se sabia o que era o formato CD na altura) tendo esse disco vindo a servir como motor de arranque para me atirar aos poucos e poucos ao "cancioneiro" do homem. As vezes anteriores que tinha estado no Coliseu tinham sido apenas para ir ao circo no natal quando era ainda mais puto, esta seria pois a primeira vez que ia a um concerto, poderia então ser melhor a estreia? Recordo-me de estar na rampa que dava acesso à entrada na altura para a bancada geral (entre a pastelaria "Solmar" e o próprio Coliseu) quando passado não muito tempo chegou o Cohen "himself" para fazer o "soundcheck" umas duas horas antes, vinha sozinho, vestido de negro como aparecia sempre nos telediscos e subiu essa mesma rampa pelos seus próprios pés, parando para espanto do meu espanto junto das dez ou quinze pessoas que já ali se iam juntando, soltou então um amistoso "Good evening friends" naquela voz de torvão para toda a gente e abeirou-se junto de cada um de nós cumprimentando-nos com um aperto de mão. O Leonard Cohen tinha acabado de me cumprimentar, a mim um puto de dezassete anos, fiquei claro com um enorme sorriso na cara de ponta a ponta, uma vez que, nessa altura o homem já era uma autêntica lenda viva, um daqueles cantores míticos com uma aura comparada a um Leo Férre ou a um Bob Dylan, recordo-me também de uma rapariga que estava na rampa , nos seus vinte e poucos anos, muito bonita, magra e com uns longos cabelos, ter sacado logo de uma "Kodak" e de não perder tempo nenhum em imortalizar aquele especial momento com a mesma. Depois quando as portas foram abertas, entramos ordeiramente e foi só esperar impacientemente que começasse aquele que foi para mim o melhor concerto a que assisti até hoje, escutar silenciosamente Dance Me To The End Of Love, Bird On A Wire, Suzanne, Chelsea Hotel, Take This Waltz, Hallelujah, The Partisan, Famous Blue Raincoat...sim Famous Blue Raincoat foi tocada no Coliseu (esta talvez a minha canção preferida de todas, ou a que fica talvez uns ligeiros milímetros acima de todas as outras) foi algo indiscrítivel e que guardei na minha memória até hoje...
Passados vinte anos dessa data longínqua, o "canadiano errante" vai voltar a Lisboa, dia 19 de Julho o Passeio Marítimo de Algês vai engalanar-se e recebe-lo, claro que para mim vai tornar-se "solo sagrado" e todas aquelas canções que escutei naquela noite de final de Primavera, bem como outras mais recentes mas não menos importantes vão voltar a ser escutadas por todos os que quiserem e estiverem preparados para tal, eu e outros "amigos", alguns vindos de paragens muito, mas muito longínquas fora da velha Europa, vamos lá estar unidos em devoção para as receber...


Its four in the morning, the end of december
Im writing you now just to see if youre better
New york is cold, but I like where Im living
Theres music on clinton street all through the evening.

I hear that youre building your little house deep in the desert
Youre living for nothing now, I hope youre keeping some kind of record.

Yes, and jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?

Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
Youd been to the station to meet every train
And you came home without lili marlene

And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobodys wife.

Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see janes awake --

She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
Im glad you stood in my way.

If you ever come by here, for jane or for me
Your enemy is sleeping, and his woman is free.

Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.

And jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear

-- sincerely, l. cohen