sexta-feira, 31 de julho de 2009
Leonard Cohen "O Último Crooner..."
Foto: Magdalena Stokoswka / Juan Luis Corcobado
Pavilhão Atlântico,Lisboa 30 Julho
Lotação Esgotada
“O último crooner…”
Em primeiro de tudo gostava de dizer que não estou aqui para enganar ninguém. Quem escreve isto é alguém que considera Leonard Cohen um dos mais geniais e influentes “cantautores” dos últimos 40 anos e certamente não serei o único a pensar assim, por isso, que me perdoe quem achar que se calhar devia ser menos emotivo ao falar do espectáculo que tive o privilégio de assistir ontem à noite.
Lisboa teve a honra de o receber pela quarta vez, depois do concerto realizado no Coliseu em 1988 e do regresso no ano passado no Passeio Marítimo de Algés, e da primeira vez e para muitos verdadeiramente inesquecível já no longínquo ano de 1985 no Pavilhão do Dramático de Cascais.
Desta vez Cohen não foi pontual como no ano passado, eram 21.10 quando as luzes do Atlântico se apagaram e um cavalheiro de idade muito respeitável, de fato cinzento-escuro às riscas e “fedora” na cabeça entrou em palco para iniciar aquele que muito certamente será o seu último concerto em Portugal.
Em relação ao alinhamento esperava-se mais ou menos o mesmo do ano passado em Algês (o que por si só era excelente) mas com pequenas surpresas que poderiam fazer a diferença, e assim foi. Iniciando o set com o dilacerante “Dance Me To The End Of Love” (quem não ia avisado deve ter com toda a certeza logo aqui vertido as primeiras lágrimas da noite), Cohen saltou logo de seguida sem mácula para “The Future” do álbum homónimo de 1992.
“Ain’t No Cure For Love” era a primeira visita a “I’m Your Man”, e “Bird On A Wire” (que recebeu a segunda ovação), foi o primeiro dos temas antigos a ser interpretado, começava logo a ser mais que notório o à vontade com que Cohen colocava a voz e a forma perfeita como esta soava, isto ainda, aliado à sua postura em palco e a forma como se mexia, ajoelhando-se vezes sem fim, para quem faz 75 anos em Setembro...em “In My Secret Life” passou o protagonismo para a sua colaboradora Sharon Robinson e no tema seguinte "Who By Fire" ouviu-se nova ovação, desta vez para o catalão Javier Mas e o seu solo introdutório de banduria. A primeira grande surpresa da noite pode dizer-se que foi efectivamente “Waiting For The Miracle” onde sobressaiam as vozes angelicais de Charlie e Hattie Webb.
Depois de “Anthem” Cohen e restantes músicos fizeram uma pausa de 20 m voltando para uma segunda parte de luxo que teve início com “Tower Of Song”, a partir daí foi o desfilar de canções que são autênticos clássicos do trovador/crooner canadiano. “Suzanne”, “Sisters Of Mercy” e “The Partisan” foram as que se seguiram e foram interpretadas de forma magistral e irrepreensível. Cohen sempre teve uma predilecção (no bom sentido) pelo sexo feminino e é nas manas Webb e em Sharon Robinson que faz depositar de seguida a atenção de todos os presentes, “Boogie Street é pois interpretada por elas. O concerto estava então a aproximar-se das 2 horas e a sala aplaudia toda de pé entre o desfilar das canções, autênticos clássicos. Para o fim do segundo set, mais três de cortar a respiração a qualquer um, “Hallelujah” aqui claro com nova ovação pelas 12000 pessoas que enchiam a sala, “I’m Your Man” (em que o mestre dá uma sábia lição de como seduzir com sucesso uma mulher), terminando com uma homenagem a Garcia Lorca em “Take This Waltz”, aqui e para surpresa ou talvez não de muitos, alguns pares lembraram-se embalados pela valsa de dar um "pé de dança" no corredor junto às primeiras filas. Outro grande momento espontâneo da noite aconteceu quando as pessoas começaram a levantar-se das cadeiras e a aproximarem-se da boca do palco, inicialmente uma, duas, depois três, até que a uma certa altura já toda a gente queria ver Cohen mais de perto. Nos encores destaca-se mais duas canções, “So Long Marianne” com toda a sala cantar e finalmente “Famous Blue Raincoat”, na digressão do ano anterior só tinha sido tocada por duas vezes, em Manchester a Atenas, mas agora foi finalmente inserida no alinhamento, aqui confesso que fiquei paralisado durante 5 m, tema da noite, umas das mais belas canções que alguém já escreveu até hoje, já a aproximar-se do fim “If It Be Your Will” do álbum “Various Positions” foi interpretada pelas belíssimas Webb Sisters acompanhadas por viola e harpa e “Closing Time” fechou o segundo “encore”. Em jeito de despedida já muito perto das 3 horas de espectáculo, Leonard Cohen ameaçou que ia deixar os presentes com “I Tried To Leave You” fazendo-o de seguida com “Wither Thou Goest” cantada à capela por todos, roadies e restantes técnicos incluídos.
Cohen mais uma vez foi de uma simplicidade e humildade desarmante oferecendo a Lisboa uma noite memorável, tendo o público mostrado um enorme respeito e veneração por uma figura incontornável com uma aura e carisma fora do vulgar. Não ousando comparar este concerto com o do ano passado, porque isso não sou capaz de o fazer e seria uma heresia, arrisco dizer que Portugal tão cedo não vai assistir a um concerto assim e que este vai perdurar na memória de quem o viu por muito tempo, a digressão mundial de Cohen aproxima-se rapidamente do fim sendo bastante provável que não mais voltará a actuar. A noite de ontem fica para a eternidade...obrigado L.Cohen.
O alinhamento:
1 Dance Me To The End Of Love
2 The Future
3 Ain't No Cure For Love
4 Bird On A Wire
5 Everybody Knows
6 In My Secret Life
7 Who By Fire
8 Waiting For The Miracle
9 Anthem
10 Tower Of Song
11 Suzanne
12 Sisters Of Mercy
13 The Partisan
14 Boggie Street (Sharon Robinson & The Webb Sisters)
15 Hallelujah
16 I'm Your Man
17 Take This Waltz
18 So Long Marianne
19 First We Take Manhattan
20 Famous Blue Raincoat
21 If It Be Your Will (The Webb Sisters)
22 Closing Time
23 I Tried To Leave You
24 Whither Thou Goest
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3 comentários:
Obrigada JB pela tua descrição emotiva e sentida. Também me emocionei a ler-te. Este grande senhor vai deixar muitas saudades. A poesia, a voz, a humildade, o encantamento e a magia que ele provoca são inesqueciveis.
Obrigado eu pela visita e pelo comentário...
E que noite...só de o ler voltei a arrepiar-me..."dejá vu?!"..no way...always UNIQUE!!! Não tenho palavras para aquela noite...apenas a esperança, de que não haja na minha vida 2 sem 3...;) e para o ano encontramo-nos de novo ;)
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